O Espectro continua rondando...

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

2º Anticurso de Jornalismo

Participei deste primeiro anticurso e foi fantástico. Indico a quem interessa ser jornalista e também para aqueles que quem queira ser mais esclarecido.



2º Anticurso de Jornalismo
Como não enriquecer na profissão

Apoio: Escola da Cidade

objetivo A visão “Caros Amigos” de fazer e pensar o jornalismo. Sobre a exigência de
diploma, a mídia grande, o mito da imparcialidade e do ouvir os dois lados, o manual de redação, o repórter telefônico, a supressão de criatividade, as “fontes”. Aberto a estudantes, profissionais de comunicação e interessados em geral.

método palestra-debate (troca de idéias).

carga horária 16 horas

duração dois finais de semana de março (sábado e domingo)

datas 1º fim de semana 08 e 09 / 2º fim de semana 15 e 16

horários 1ª palestra: 13h às 15h (duas horas) – intervalo de 30 minutos

2ª palestra: das 15h 30 às 17h 30 (duas horas).

total de palestrantes 8

local: Escola da Cidade, Rua General Jardim, 65 - Metrô República - São Paulo/SP
vagas 100

palestrantes: José Arbex Jr., Ferréz, Mylton Severiano, Claudio Tognolli, Sergio Pinto de Almeida, Marcos Zibordi, Georges Bourdoukan, Hamilton O. Souza

valor do curso: 200 reais

contato para inscrição anticurso@carosamigos.com.br ou pelo telefone (11) 3819-0130

cronograma de palestras

sábado 8/3
13h-15h Mylton Severiano
15h30-17h30 José Arbex Jr.

domingo 9/3
13h-15h Claudio Tognolli
15h30-17h30 Hamilton O. de Souza

sábado 15/3
13h-15h Ferréz
15h30-17h30 Sérgio P. Almeida

domingo 16/3
13h-15h Georges Bourdoukan
15h30-17h30 Marcos Zibordi

conheça os palestrantes

MYLTON SEVERIANO
Mylton Severiano é o Editor Executivo da revista Caros Amigos. Jornalista desde criancinha, aos nove publicou no jornal Terra Livre o primeiro texto, sobre as condições em que vivia um casal de camponeses na Fazenda Bonfim, de sua terra natal, Marília. Ali formou-se acordeonista no Conservatório Musical Santa Cecília e concluiu o antigo Científico. Estudou Direito no Largo São Francisco, em São Paulo, curso que abandonou no segundo ano para dedicar-se ao jornalismo, na Folha de S. Paulo. Em 47 anos de carreira, trabalhou nos mais diversos veículos, em jornais, revistas, rádio e tv – Quatro Rodas, Realidade, Jornal da Tarde; TVs Tupi, Cultura, Globo, Record, Abril Vídeo. Participou do nascedouro de publicações como mensário ex-, lançado por Sérgio de Souza e Narciso Kalili; o diário Panorama, de Londrina, norte do Paraná; A Nação, semanário fundado por Tarso de Castro no Rio; Brasil-Extra; Extra Realidade Brasileira, dentre outros. Autor de vários livros, entre eles uma biografia de João XXIII; Um Século de Boa Vida, em parceria com Jorginho Guinle; Se Liga – O livro das drogas, finalista do Prêmio Jabuti de 1998; e Paixão de João Antônio, este pela Editora Casa Amarela, que publica Caros Amigos. Antes de tornar-se Editor Executivo da revista, já estava presente em suas páginas com a coluna Enfermaria, cujo nome explicou assim: “Sempre gostei da expressão - ‘ isso aí é outra enfermaria’. Tem a ver com a constatação: se o jornalismo é isso que a mídia gorda faz, então não sou jornalista, mas enfermo; ou, ao contrário, jornalista
sou eu, e eles, enfermos.”

JOSÉ ARBEX JR.
José Arbex Jr. é editor especial da revista Caros Amigos. É doutor em história social pela Universidade de São Paulo (USP) e professor de jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Como correspondente da Folha de S.Paulo, cobriu alguns dos eventos internacionais mais importantes da segunda metade do século 20, incluindo a guerra civil na Nicarágua e a queda da ditadura dos Duvalier no Haiti (1986), o processo de transformações da União Soviética (1988-1990), a retirada soviética do Afeganistão (1988), a retirada vietnamita do Cambodja, a Primavera de Pequim e a queda do Muro de Berlim (1989), a Guerra do Golfo (1991), o golpe de Estado de Alberto Fujimori, no Peru (1992). Em março de 2002, visitou a Palestina, como integrante de uma comissão especial do Fórum Social Mundial. O relato da visita está contido no livro Terror e esperança na Palestina (Editora Casa Amarela). Ao longo de sua carreira, Arbex manteve entrevistas exclusivas com Mikhail Gorbatchov, Yasser Arafat, Daniel Ortega, Ahmed Ben Bella, Samir Amin, Hebe de Bonafini, Noam Chomsky, Edward Said, Florestan Fernandes,
Celso Furtado, Milton Santos e outros chefes de Estado, ativistas, militantes e intelectuais. Em 1999 ganhou o Prêmio Vladimir Herzog de Jornalismo, pela reportagem “Terror no Paraná”, publicada por Caros Amigos. Também foi homenageado, em 2001, pelo Grupo Solidário São Domingos; em 2003 ganhou medalha Chico Mendes, oferecida pelo grupo Tortura Nunca Mais, em associação com outras entidades de defesa dos direitos humanos.

CLÁUDIO TOGNOLLI
Claudio Julio Tognolli é professor Titular da ECA-USP e da FMU-Fiam. Tem 44 anos, é jornalista desde os 16 de idade. Doutor em filosofia das ciências e mestre em psicanálise da comunicação, pela USP. Autor de cinco livros. Ganhou prêmios Esso, Jabuti, do Depto de Estado dos EUA e Grande Premio Folha de Jornalismo. Trabalhou em Veja, Folha de S. Paulo, NP, AOL, Rádios CBN, Jovem Pan e Eldorado, sempre como repórter especial. Já fez reportagens em mais de 30 países. É hoje repórterespecial da revista Consultor Jurídico e escreve para as revistas Caros Amigos, Galileu, Galileu Historia, Flash, Rolling Stone e Joyce Pascowitch. Seu quinto livro é sobre investigação: Midia, Máfia e Rock and Roll, pela Editora do Bispo, de Xico Sá e Pinky Wainer. Está terminando seu sexto livro, um romance policial, chamado Balenciaga Torres. É diretor da Abraji, associação brasileira de jornalismo investigativo, e representante do Brasil no International Consortium of Investigative Journalism (www.icij.org). É jurado de jornalismo da Fundacion Nuevo Periodismo Internacional, de Gabriel Garcia Marquez.

HAMILTON OCTAVIO DE SOUZA
Hamilton Octavio de Souza é jornalista profissional desde 1972. Trabalhou na reportagem geral e na reportagem política de O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Editora Abril e na imprensa alternativa, sindical e popular. Em 1974 participou da cobertura jornalística da Revolução dos Cravos, em Portugal. Foi diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo de 1975 a 1978 e um dos criadores do jornal Unidade. Em 1981, recebeu o Prêmio Wladimir Herzog de Direitos Humanos por
reportagem sobre a repressão política no Cone Sul, publicada no jornal Movimento. Foi diretor de Comunicação da Unifeob, de 2001 a 2004. Foi editor da Revista Sem Terra, do MST, de 2001 a 2006. É articulista dos jornais Brasil de Fato, Cantareira, A Palavra Latina, PUCViva e Tribuna (VGS) e da revista Caros Amigos. É professor da PUC-SP desde 1982. Leciona as disciplinas Projetos Experimentais, Técnicas de Reportagem e Sistemas de Comunicação no Brasil. Leciona também nos cursos de especialização
em Jornalismo Político e Jornalismo Social da PUC-SP-Cogeae. Formado em Jornalismo pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), tem curso de especialização na Universidade de Navarra, Espanha. Tem atuado ˆ por meio de artigos, debates e cursos ˆ nas áreas de jornalismo alternativo e popular, ética profissional, crítica da mídia e democratização dos meios de comunicação. É chefe do Departamento de Jornalismo da PUC-SP e diretor da Apropuc.

FERRÉZ
Ferréz é um híbrido de Virgulino Ferreira (Ferre) e Zumbi dos Palmares (Z) e uma homenagem a heróis populares brasileiros. Começou a escrever aos sete anos de idade, acumulando contos, versos, poesias e letras de música. Antes de se dedicar exclusivamente à escrita, trabalhou como balconista, vendedor de vassouras, auxiliar-geral e arquivista. Seu primeiro livro, Fortaleza da Desilusão, foi lançado em 1997,
com patrocínio da empresa onde trabalhava. A notoriedade veio com o lançamento de Capão Pecado que está na terceira edição, lançado em 2000, romance sobre o cotidiano violento do bairro do Capão Redondo, na periferia de São Paulo, onde vive o escritor. Ligado ao movimento hip hop e fundador da 1DASUL (marca de roupa totalmente feita no bairro) atuou também como cronista na revista Caros Amigos durante 5 anos. É criador do projeto, organizador e editor-chefe da revista Literatura Marginal, publicada
em colaboração com a Caros Amigos. No mesmo ano o autor cria o selo literário L.M. Outros livros são: Manual Prático do Ódio, Ninguém é Inocente em São Paulo (contos) e o infantil Amanhecer Esmeralda, todos pela editora Objetiva. Em sua prosa ágil e seca, composta com doses igualmente fortes de revolta, perplexidade e esperança, Ferréz reivindica voz própria e dignidade para os habitantes das periferias das grandes cidades brasileiras.

SÉRGIO PINTO DE ALMEIDA
Sérgio Pinto de Almeida fez faculdade de jornalismo, um pouco de letras e um pouco mais de filosofia. Mas o primeiro mestre, mesmo, foi Samuel Wainer, no semanário Aqui, São Paulo. Vieram outros, assim como veio o Diário de S.Paulo, Diário da Noite, Folha, Estadão, Jornal da Tarde, Status, Veja S.Paulo, e muitos outros veículos, especialmente da chamada imprensa alternativa, como Canja, Retratos do Brasil etc. E veio também muito free lancer, muitos projetos especiais, um tanto de televisão, produtoras, apresentação de programas de rádio e algumas campanhas políticas. São mais de 30 anos de jornalismo. Colabora de vez em quando com Caros Amigos, faz textos para a ESPN Brasil, dá aula no jornalismo da PUC-SP e dirige a Editora Papagaio. É são-paulino há 53 anos.

GEORGES BOURDOUKAN
Georges Bourdoukan, nascido no Líbano, em Miniara-Akkar, veio para o Brasil com 10 anos. Em São Paulo, como jornalista trabalhou nos mais diversos meios de comunicação. Foi colunista de assuntos estudantis no jornal Última Hora (seria preso, junto com os estudantes, quando fazia a cobertura do congresso da UNE em Ibiúna, proibido pelo regime militar). Mais tarde foi para a revista Placar onde, para comprovar que os jogadores não gozavam de nenhum respeito por parte dos dirigentes, fez-se passar
por empresário e comprou meio time do Santos para um fictício time marroquino.O contrato de venda foi assinado (e reconhecido em cartório) pelo então vice-presidente do Santos F.C., um general que vendia jogadores “como se estivesse vendendo gado”( os jogadores não haviam sido consultados). Em 1974 foi pra TV Cultura de São Paulo (de onde saiu diretamente para os porões da violenta Oban, Operação Bandeirante(DOI-CODI), por ordem do governador por não aceitar retirar uma matéria que alertava a população sobre um surto de meningite). Depois foi para a Rede Globo de Televisão. Como responsável pelo núcleo paulista do programa Globo Repórter, desagradou profundamente os fabricantes de pesticidas, ao realizar uma série de matérias sobre os danos causados ao meio ambiente pelo uso de tais produtos. O programa foi extinto. Em 1983, sem jamais cansar de dar murro em ponta de faca, funda o Jornal Jerusalém, especializado em assuntos do Oriente Médio (acusa os sionistas de anti-semitas e, enquanto de um lado o então ministro da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel, tenta incriminá-lo, de outro ganha o Prêmio Vladimir Herzog). Em 1984 passa a dirigir duas publicações, a Revista Palestina, órgão oficial da OLP no Brasil, e a Revista dos Estados Árabes, por meio das quais viaja ao Oriente Médio, cobrindo conflitos na região. Como professor universitário, abandonou a Universidade por entender que a Academia servia apenas para domesticar os alunos. Ultimamente, Georges Bourdoukan vem se dedicando à literatura
e ao seu blog no site da Caros Amigos. Também é autor de A Incrível e Fascinante História do Capitão Mouro, O Peregrino, Vozes do Deserto e O Apocalipse todos pela Editora Casa Amarela.

MARCOS ZIBORDI
Marcos Zibordi é formado em jornalismo pela Unesp e mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal do Paraná com dissertação relacionando jornalismo alternativo e literatura marginal. Faz pesquisa de doutoramento na Universidade de São Paulo (USP) sobre a poesia do rap paulistano. É colaborador da Revista Sem Terra, do MST, repórter da Caros Amigos e professor da Universidade Bandeirante de São Paulo (Uniban), nos cursos de Jornalismo e Letras. Já foi correspondente no interior de São Paulo para o Jornal da Cidade, de Bauru; repórter de cultura da Gazeta do Povo, de Curitiba; e passou rapidamente pelo Almanaque Abril.

Inscrições: www.carosamigos.com.br

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Heil Álvaro!


Nos últimos dias o presidente colombiano Álvaro Uribe aparece freqüentemente em nossa mídia-engodo.
Desde o início das negociações com as FARCs, nossos “formadores de opinião” apelaram para a velha e conhecida tática do “Bem (Álvaro Uribe, óbvio) x Mal (Hugo Chárvez, mais óbvio ainda)”. Uma fórmula tacanha, utilizada desde os termpos antigos, passando pela Idade Média e que, ainda hoje faz a cabeça do senso-comum que lê a V*** e assiste o Jornal N******.
Sinceramente, me desanimo quando as pessoas apresentam estes argumentos prontos para acusar – ninguém faz análise, simplesmente acusa – o presidente de Hugo Chávez de falador, populista, fanfarrão etc. Mas melhor não reclamar, pois já melhorou. Afinal, após a derrota do governo venezuelano no Plebiscito não o acusam de ditador com tanta freqüência. Mas vale lembrar que enquanto as pesquisas davam vitória para o governo, os super analistas políticos acusavam Chávez de realizar uma “ditadura plebiscitária”. Poético, não?!
Pois bem, minha intenção neste caso não é defender o Chávez, mas divulgar uma biografia não autorizada do Ilustríssimo Presidente da República da Colômbia Álvaro Uribe: esse Messias fortemente apedrejado por Chávez tem uma história no mínimo interessante. Lendo esta biografia não-autorizada – com certeza porque o biógrafo mente, claro – deste senhor que manda em um dos países mais complexos politicamente do continente sul-americano.
O texto está em espanhol, mas creio que a leitura não seja muito complicada. Deliciem com esta fábula que é a vida de Álvaro Uribe Vélez.
Com vocês: Biografía no autorizada de Álvaro Uribe Vélez (El Señor de las Sombras) de Jorge Contreras!
Nota: mais um comunista assassinado na Colômbia na semana passada.Uribe, infelizmente, não conseguiu salvá-lo.



Link: http://www.resistir.info/colombia/biografia_auv.pdf
Fonte: www.resistir.info

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Soldado Israelense surpreende terrorista...

... de aproximadamente 5 anos de idade, pois o mesmo teve a ousadio de andar em sua própria terra: a Palestina.


Para saber mais sobre o que está acontecendo na Palestina, acesse o blog do Bourdoukan: blogdobourdoukan.blogspot.com

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Cantada – Ferreira Gullar


Você é mais bonita que uma bola prateada
de papel de cigarro
Você é mais bonita que uma poça dágua
límpida
num lugar escondido
Você é mais bonita que uma zebra
que um filhote de onça
que um Boeing 707 em pleno ar
Você é mais bonita que um jardim florido
em frente ao mar em Ipanema
Você é mais bonita que uma refinaria da Petrobrás
de noite
mais bonita que Ursula Andress
que o Palácio da Alvorada
mais bonita que a alvorada
que o mar azul-safira
da República Dominicana

Olha,
você é tão bonita quanto o Rio de Janeiro
em maio
e quase tão bonita
quanto a Revolução Cubana

www.ferreiragullar.com.br

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Não basta louvar - por Oscar Niemeyer

Sempre fantástico!

Oscar Niemeyer: "Não basta louvar"

Hoje, lembrando os dias de folga que o fim de ano nos assegura, sinto que alguma coisa me foi possível realizar. Não tinha nenhum programa preestabelecido. O meu aniversário, uma semana antes, havia sido muito movimentado, e centenas de amigos me procuraram para me abraçar na casa das Canoas. O meu desejo era evitar tudo isso, e festejar um centenário me parecia pesado demais. Não que o passado me entristecesse, mas como me revolta lembrar as velhas amizades perdidas para sempre...

Como eu esperava, os amigos insistiram e acabei ficando o dia todo por lá, onde, sem festa nem música, atenderia os que aparecessem. E, passado tudo isso, foi no meu apartamento de Ipanema que me deixei ficar, um pouco cansado do que ocorrera, mas surpreso ao constatar que, como se tivesse estado no escritório, havia projetado o memorial de Prestes e lera dois livros extraordinários.
O primeiro é uma novela do poeta português Manuel Alegre, "Cão como Nós", que muito me comoveu. Uma história simples de um cachorro que acompanhou o seu narrador por muitos anos e que com ele se entendia tão bem que só faltava falar. É nessa procura de comunicação, de se compreenderem melhor, que o texto se desenvolve -em linguagem de qualidade literária tal que não raro pedia a Vera, minha mulher, para repetir trechos pelo prazer de os ouvir outra vez.
O outro livro, que recebi de presente do meu amigo Fernando Balbi, é uma coletânea de artigos de José Luís Fiori ("O Poder Global"), tão atualizados e esclarecedores que todo jovem brasileiro deveria conhecê-los. Fiori expõe sua posição progressista sobre as contradições do mundo globalizado e a onda neoconservadora que cresce por toda parte, com forte apoio do governo norte-americano.
Mas não foi só a leitura que me ocupou, mas principalmente o projeto que fiz do memorial de Luís Carlos Prestes, a ser construído no Sul do país. É, a meu ver, obra tão especial que vale a pena explicá-la um pouco.

Um trabalho que não se baseou, como de costume, num programa construtivo, mas na idéia de criar um elemento principal e único: uma parede que, cheia de curvas e retas inesperadas, atravessando em diagonal um retângulo de vidro do edifício (de lado a lado), possa lembrar aos visitantes as etapas fundamentais da vida desse grande brasileiro. A fachada simples e retilínea de vidro do edifício marcaria, com a parede interna tão movimentada, o contraste que a boa arquitetura procura muitas vezes exibir.
Junto da entrada, a parede com textos e imagens começa a mostrar aos visitantes os inícios da vida de Prestes, quando, oficial do Exército, era incumbido de acompanhar obras em construção no Rio Grande do Sul -aí surge, já com 26 anos, severo como sempre foi, Prestes a reclamar da maneira pouco correta com que os trabalhos estavam sendo desenvolvidos.
Não recebendo resposta às denúncias que fazia, foi pouco a pouco sentindo que uma solução burocrática a nada conduzia, mas que os problemas do país tinham de ser resolvidos por meio de uma revolução. E a Coluna Prestes apareceu naturalmente como a única maneira de enfrentar as questões políticas e sociais existentes.
Passo a passo, os visitantes vão tomando conhecimento dessa marcha extraordinária, da coragem desse grupo de patriotas a resistir por tanto tempo às forças repressivas. Logo em seguida, Prestes é obrigado a se exilar-na Bolívia e, depois, na Argentina, seguindo mais tarde para a União Soviética, quando, já sintonizado com o pensamento de Marx, dá à revolução um sentido mais amplo e universal.
A parede vai se escurecendo e, num ambiente mais fechado e sombrio, aparece o período da prisão, em que ele permanece nove anos incomunicável. E, como para agravar tanta tristeza, em 1936, sua mulher, Olga Benário, presa e grávida, é enviada criminosamente a um campo de concentração na Alemanha, onde seria morta numa câmara de gás em 1942; sua filha, Anita, após grande campanha internacional desencadeada pela mãe de Prestes, é afinal entregue à avó.
Quanta maldade! Impressionados com tanta violência, os visitantes param consternados; é a luta política com seus momentos de glória e horror. A guerra acabara. Vitoriosos, os soviéticos entram em Berlim. Um clima de otimismo se espalha. No Brasil, Prestes é anistiado, e o Partido Comunista Brasileiro conquista a legalidade. É a época dos grandes comícios, da campanha pela Constituinte.
A parede vermelha, que, de acordo com os acontecimentos, vai mudando de cor, escurece outra vez. Diante dela, comovidos, os visitantes constatam que o momento de euforia passara. Em 1947, o TSE cancela o registro do PCB e, a seguir, cassa os mandatos dos parlamentares comunistas – entre eles, Prestes. Era a reação anticomunista que recomeçava, implacável.
Prestes passa a atuar na clandestinidade. Com o golpe militar de 1964, seus direitos políticos são cassados. A história caminha para o fim.
Atentos, os visitantes seguem o relato emocionante. Começa um novo exílio, que se estende até 1979; de volta, apóia as Diretas-Já, solidarizando-se com a candidatura de Tancredo Neves. O tempo passa e, altivo e corajoso como sempre, vem a morrer em 1990; postumamente, Prestes é anistiado pelo Exército e promovido a coronel.
Como arquiteto, vejo, satisfeito, que meu projeto vai contribuir para manter viva a memória de Luís Carlos Prestes, um brasileiro que lutou em favor de seu povo, contra a miséria e a desigualdade social que, infelizmente, ainda persistem em nosso país.
Reli este texto e sinto que não basta louvar o passado. O importante é continuar essa luta por um mundo melhor que o império de Bush procura em vão obstruir.
Texto publicado na edição desta sexta-feira (11/1) da Folha de S.Paulo

Fonte: http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=30873

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

O paradoxo andante - por Eduardo Galeano



Cada dia, ao ler os diários, assisto a uma aula de história.

Os diários ensinam-me pelo que dizem e pelo que calam.

A história é um paradoxo andante. A contradição move-lhe as pernas. Talvez por isso os seus silêncios dizem mais que suas palavras e muitas vezes as suas palavras revelam, mentindo, a verdade.

Dentro em breve será publicado um livro meu chamado Espejos. É algo assim como um história universal, e desculpem o atrevimento. "Posso resistir a tudo, menos à tentação", dizia Oscar Wilde, e confesso que sucumbi à tentação de contar alguns episódios da aventura humana no mundo do ponto de vista dos que não saíram na foto.

Pode-se dizer que não se trata de factos muito conhecidos.

Aqui resumo alguns, apenas uns poucos.

Quando foram desalojados do Paraíso, Adão e Eva mudaram-se para África, não para Paris.

Algum tempo depois, quando seus filhos já se haviam lançado pelos caminhos do mundo, foi inventada a escrita. No Iraque, não no Texas.

Também a álgebra foi inventada no Iraque. Foi fundada por Mohamed al Jwarizmi , há mil e duzentos anos, e as palavras algoritmo e algarismo derivam do seu nome.

Os nomes costumam não coincidir com o que nomeiam. No British Museum, por exemplo, as esculturas do Partenon chamam-se "mármores de Elgin", mas são mármores de Fídias. Elgin era o nome do inglês que as vendeu ao museu.

As três novidades que tornaram possível o Renascimento europeu, a bússola, a pólvora e a imprensa, haviam sido inventadas pelos chineses, que também inventaram quase tudo o que a Europa reinventou.

Os hindús souberam antes de todos que a Terra era redonda e os maias haviam criado o calendário mais exacto de todos os tempos.

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Em 1493, o Vaticano presenteou a América à Espanha e obsequiou a África negra a Portugal, "para que as nações bárbaras sejam reduzidas à fé católica". Naquele tempo a América tinha quinze vezes mais habitantes que a Espanha e a África negra cem vezes mais que Portugal.

Tal como havia mandado o Papa, as nações bárbaras foram reduzidas. E muito.

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Tenochtitlán, o centro do império azteca, era de água. Hernán Cortés demoliu a cidade pedra por pedra e, com os escombros, tapou os canais por onde navegavam duzentas mil canoas. Esta foi a primeira guerra da água na América. Agora Tenochtitlán chama-se México DF. Por onde corria a agua, agora correm os automóveis.

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O monumento mais alto da Argentina foi erguido em homenagem ao general Roca, que no século XIX exterminou os índios da Patagónia.

A avenida mais longa do Uruguai tem o nome do general Rivera, que no século XIX exterminou os últimos índios charruas.

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John Locke, o filósofo da liberdade, era accionista da Royal Africa Company , que comprava e vendia escravos.

No momento em que nascia o século XVIII, o primeiro dos bourbons, Felipe V, estreou o seu trono assinando um contrato com o seu primo, o rei da França, para que a Compagnie de Guinée vendesse negros na América. Cada monarca ficava com 25 por cento dos lucros.



Nomes de alguns navios negreiros: Voltaire, Rousseau, Jesus, Esperança, Igualdade, Amizade.

Dois do Pais Fundadores dos Estados Unidos desvaneceram-se na névoa da história oficial. Ninguém se recorda de Robert Carter nem de Gouverner Morris . A amnésia recompensou os seus actos. Carter foi a única personalidade eminente da independência que libertou seus escravos. Morris, redactor da Constituição, opôs-se à cláusula estabelecendo que um escravo equivalia às três quintas partes de uma pessoa.

"O nascimento de uma nação" , a primeira super-produção de Hollywood, foi estreado em 1915, na Casa Branca. O presidente, Woodrow Wilson, aplaudiu-a de pé. Ele era o autor dos textos do filme, um hino racista de louvação à Ku Klux Klan.

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Algumas datas:

Desde o ano 1234, e durante os sete séculos seguintes, a Igreja Católica proibiu que as mulheres cantassem nos templos. As suas vozes eram impuras, devido àquele caso da Eva e do pecado original.

No ano de 1783, o rei da Espanha decretou que não eram desonrosos os trabalhos manuais, os chamados "ofícios vis", que até então implicavam a perda da fidalguia.

Até o ano de 1986 foi legal o castigo das crianças, nas escolas da Inglaterra, com correias, varas e porretes.

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Em nome da liberdade, da igualdade e da fraternidade, em 1793 a Revolução Francesa proclamou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. A militante revolucionária Olympia de Gouges propôe então a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã . A guilhotina cortou-lhe a cabeça.

Meio século depois, outros governo revolucionário, durante a Primeira Comuna de Paris, proclamou o sufrágio universal. Ao mesmo tempo, negou o direito de voto às mulheres, por unanimidade menos um: 899 votos conta, um a favor.

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A imperatriz cristã Teodora nunca disse ser uma revolucionária, nem nada que se parecesse. Mas há mil e quinhentos anos o império bizantino foi, graças a ela, o primeiro lugar do mundo onde o aborto e o divórcio foram direitos das mulheres.

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O general Ulisses Grant , vencedor da guerra do Norte industrial contra o Sul escravocrata, foi a seguir presidente dos Estados Unidos.

Em 1875, respondendo às pressões britânicas, respondeu:

–Dentro de duzentos anos, quando tivermos obtido do proteccionismo tudo o que ele nos pode proporcionar, também nós adoptaremos a liberdade de comércio.

Assim, pois, nos de 2075, o país mais proteccionista do mundo adoptará a liberdade de comércio.

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"Botinzito" foi o primeiro cão pequinês que chegou à Europa.

Viajou para Londres em 1860. Os ingleses batizaram-no assim porque era parte do botim extorquido à China no fim das longas guerras do ópio .

Vitória, a rainha narcotraficante, havia imposto o ópio a tiros de canhão. A China foi convertida num país de drogados, em nome da liberdade, a liberdade de comércio.


Em nome da liberdade, a liberdade de comércio, o Paraguai foi aniquilado em 1870. Ao cabo de uma guerra de cinco anos, este país, o único das Américas que não devia um centavo a ninguém, inaugurou a sua dívida externa. Às suas ruínas fumegantes chegou, vindo de Londres, o primeiro empréstimo. Foi destinado a pagar uma enorme indemnização ao Brasil, Argentina e Uruguai. O país assassinado pagou aos países assassinos, pelo trabalho que haviam tido a assassiná-lo.

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O Haiti também pagou uma enorme indemnização. Desde que, em 1804, conquistou a sua independência, a nova nação arrasada teve que pagar à França uma fortuna, durante um século e meio, para espiar o pecado da sua liberdade.

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As grandes empresas têm direitos humanos nos Estados Unidos. Em 1886, a Suprema Corte de Justiça estendeu o direitos humanos às corporações privadas, e assim continua a ser.

Poucos anos depois, em defesa dos direitos humanos das suas empresas, os Estados Unidos invadiram dez países, em diversos mares do mundo.

Mark Twain, dirigente da Liga Anti-imperialista, propôs então uma nova bandeira, com caveirinhas em lugar de estrelas. E outro escritor, Ambroce Bierce, confirmou:

–A guerra é o caminho escolhido por Deus para nos ensinar geografia.

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Os campos de concentração nasceram na África. Os ingleses iniciaram o experimento, e os alemães desenvolveram-no. Depois disso Hermann Göring aplicou na Alemanha o modelo que o seu papa havia ensaiado, em 1904, na Namíbia. Os professores de Joseph Mengele haviam estudado, no campo de concentração da Namíbia, a anatomia das raças inferiores. As cobaias eram todas negras.

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Em 1936, o Comité Olímpico Internacional não tolerava insolências. Nas Olimpíadas de 1936, organizadas por Hitler, a selecção de futebol do Peru derrotou por 4 a 2 a selecção da Áustria, o país natal do Führer. O Comité Olímpico anulou a partida.

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A Hitler não lhe faltaram amigos. A Rockefeller Foundation financiou investigações raciais e racistas da medicina nazi. A Coca-Cola inventou a Fanta, em plena guerra, para o mercado alemão. A IBM tornou possível a identificação e classificação dos judeus, e essa foi a primeira façanha em grande escala do sistema de cartões perfurados.
(...)

O original encontra-se em http://www.pagina12.com.ar/diario/sociedad/3-96843-2007-12-30.html

Este excerto encontra-se em http://resistir.info/ .

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

20 anos sem Henfil... TOP TOP TOP! pra nós



20 anos sem o maior cartunista da nossa história. TOP TOP TOP pra nós que ficamos sem eles e, principalmente os jovens (como eu...hehehehe) que não tiveram oportunidade de conviver o mesmo tempo racional deste grande artista inconformado.



Quantas pessoas continuam enchendo o saco que (infelizmente) não foram enterradas no cemitério do Cabôco Mamadô, hein?
Henfil faz falta, muita falta...
Saudações,
Paulo

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Feliz 2008


Olá,

Estou voltando a postar e espero dar continuidade este ano.
Espero que este ano a retórica do senso comum comece a sair um pouco do "eu" para partir para o "nós".
(mão esquerda do Memorial - mais uma obra do gênio centenário Oscar Niemeyer)

Saudações,

Paulo