O Espectro continua rondando...

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Intelectuais apolíticos


Intelectuais apolíticos
por Otto Rene Castillo [*]

Um dia,

os intelectuais
apolíticos
do meu país
serão interrogados
pelo homem
simples
do nosso povo

Serão perguntados
sobre o que fizeram
quando
a pátria se apagava
lentamente,
como uma fogueira frágil,
pequena e só.

Não serão interrogados
sobre os seus trajes,
nem acerca das suas longas
siestas
após o almoço,
tão pouco sobre os seus estéreis
combates com o nada,
nem sobre sua ontológica
maneira
de chegar às moedas.
Ninguém os interrogará
acerca da mitologia grega,
nem sobre o asco
que sentiram de si,
quando alguém, no seu fundo,
dispunha-se a morrer covardemente.
Ninguém lhes perguntará
sobre suas justificações
absurdas,
crescidas à sombra
de uma mentira rotunda.
Nesse dia virão
os homens simples.
Os que nunca couberam
nos livros e versos
dos intelectuais apolíticos,
mas que vinham todos os dias
trazer-lhes o leite e o pão,
os ovos e as tortilhas,
os que costuravam a roupa,
os que manejavam os carros,
cuidavam dos seus cães e jardins,
e para eles trabalhavam,
e perguntarão,
"Que fizestes quando os pobres
sofriam e neles se queimava,
gravemente, a ternura e a vida?"

Intelectuais apolíticos
do meu doce país,
nada podereis responder.

Um abutre de silêncio vos devorará
as entranhas.
Vos roerá a alma
vossa própria miséria.
E calareis,
envergonhados de vós próprios.


[*] Revolucionário guatemalteco (1936-1967), guerrilheiro e poeta. A seguir ao golpe de 1954 patrocinado pela CIA, que derrubou o governo democrático de Jacobo Arbenz , Castillo teve de exilar-se em El Salvador. Voltou à Guatemala em 1964, onde militou no Partido dos Trabalhadores, fundou o Teatro Experimental e escreveu numerosos poemas. No mesmo ano foi preso mas conseguiu fugir. Regressou ao exílio, desta vez na Europa. Posteriormente retornou secretamente à Guatemala e incorporou-se a um dos movimentos guerrilheiros que operavam nas montanhas de Zacapa. Em 1967, Castillo e outros combatentes revolucionários foram capturados. Ele, juntamente com camaradas seus e camponeses locais, foram brutalmente torturados e a seguir queimados vivos.

Este poema encontra-se em http://resistir.info/

sábado, 27 de outubro de 2007

Debate de lançamento de "Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo" de Vladimir Ilich Ulianov - LÊNIN


Convido a todos os camaradas pra esse super debate com lançamento dessa nova edição do livro do Lênin, que inclui ainda a biografia dele feita por Trotsky.
TODO PODER AOS SOVIETS!!!

Lançamento do livro Capitalismo, Fase Superior do Capitalismo - de Lênin
Data: 30/10 - terça-feira, a partir das 19h - horário de verão de Brasília
Local: FESPSP - Fundação Escola de Sociologia e Política
Rua General Jardim, 522 - Vila Buarque - São Paulo - SP
Próximo ao Metrô República ou Santa Cecília
Tel.: (11) 3123-7800 / 3255-2001
Debatedores:
Marcos Sokol - Economista
Roseli Coelho - Doutora em Filosofia, professora da Escola e coordenadora do evento.

Conto com a presença de vocês.

Beijos e abraços,

Paulo

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Extra! Extra! Eleições no inferno... Extra!


Eu não acredito nisso! Cuba tem eleições! Mas como!? O diabo do Fidel Castro não é o ditador que não deixa o povo escolher nada!? Agora vem com esse papo de que mais de 95% dos cidadãos aptos!!! Não, não e não! Cuba tem que ser ditadura... senão eu choro...rs
Pra quem só acusa de ditadura, está aí uma chance de refletir um pouco sobre. Até porque eles votam também se são a favor ou contra o regime.
A saber:
- Duração de 30 meses do mandato;
- Nenhum representante recebe salário;
- Qualquer representante pode ser deposto do cargo mediante reunião do comitê do bairro com voto aberto.

Beijos e abraços,

Paulo

PS: Não saiu na V***, nem na F****, nem na G**** com o Wi***** Wa** dando a notícia com seu "belo sorriso democrático".

Fonte: http://www.granma.cu/portugues/2007/octubre/mar23/43voto.html

Votaram 95,4% dos eleitores

• Foram às urnas 8.174.350 cidadãos para eleger os vereadores do Poder Popular, segundo dados preliminares

MAIS de 8.174.350 cubanos votaram no domingo, dia 21, para eleger os vereadores, cifra que representa 95,44% dos eleitores.

Em entrevista coletiva no fechamento desta edição, a presidenta da Comissão Eleitoral Nacional, María Esther Reus, disse que esses números preliminares podem crescer. Acrescentou que no domingo, 28, haverá um segundo turno em 2.971 circunscrições, nas quais nenhum dos candidatos conseguiu mais de 50% estabelecido.

Manifestou que desta vez foram eleitos como vereadores 12.265 cidadãos; deles, 3.288 são mulheres, isto é, 26,81%; 2.053 são jhovens, ou seja, 16,74%, enquanto 5.776 foram reeleitos, 47,09% dos atuais representantes da cidadania nos órgãos locais de governo.

Também a ministra da Justiça qualificou as eleições em Cuba como um sucesso de massa, devido à participação entusiástica e ativa da população. Salientou também o nível de preparação e de asseguração de todo o processo.

Inclusive, nas províncias orientais, assinalou, onde as chuvas intensas prejudicaram recentemente as comunicações e as vias de acesso, as eleições fluíram com agilidade e qualidade graças à busca de variantes ou alternativas perante esses desafios.

Reus explicou que em breve seriam oferecidos os resultados finais deste primeiro turno, pois nesse momento estavam sendo confrontados com os registros oficial, público e computadorizado de eleitores.

Em nome da Comissão Eleitoral Nacional, transmitiu um reconhecimento a todo o povo; às 190 mil pessoas designadas como autoridades eleitorais e àqueles que apoiaram todas as instâncias e que com seu esforço garantiram que mais uma vez as eleições em Cuba se efetuassem com transparência e democracia.

Ao ser perguntada por jornalistas estrangeiros, María Esther Reus respondeu que uma terceira parte dos candidatos propostos pelas massas para vereadores não são militantes do Partido Comunista de Cuba, pois esse não é um quesito exigido para ser postulado.

Inclusive, esclareceu, também não se leva em conta aqueles que são líderes religiosos, pois todo cubano ou cubana, sem distinção de crença, pode ser eleito vereador.

Assinalou, ademais, que a data para a eleição dos governadores e dos deputados do Parlamento será informada oportunamente.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

LUTO - Mais um sem-terra assassinado por capangas de fazendeiros

Luto.

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=14685

VIOLÊNCIA NO CAMPO

Militante da Via Campesina é assassinado no PR
Um grupo de aproximadamente 40 homens armados atirou em integrantes da Via Campesina, domingo à tarde, logo após ação de reocupação de um campo de experimentos com sementes transgênicas da empresa Syngenta, no oeste do Paraná. Vilmar Mota foi morto com dois tiros no peito.

Marco Aurélio Weissheimer - Carta Maior

PORTO ALEGRE - Valmir Mota, militante da Via Campesina, foi assassinado com dois tiros no peito, ontem à tarde, em Santa Tereza do Oeste, no Paraná. Segundo a Via Campesina, Valmir foi executado por um grupo de cerca de 40 pistoleiros no acampamento do campo de experimentos da empresa multinacional Syngenta Seeds. Outros seis integrantes da Via Campesina ficaram gravemente feridos. Fábio Ferreira, que integrava o grupo de seguranças armados, também morreu. Entre os feridos o caso mais grave é o de Izabel Nascimento de Souza, que está em coma e corre risco de morte.A ação dos pistoleiros ocorreu depois que cerca de 150 integrantes do movimento reocuparam o campo de experimentos da empresa para denunciar o cultivo ilegal de sementes transgênicas de soja e milho. Conforme o relato da Via Campesina, por volta das 13h30min, cerca de 40 homens fortemente armados chegaram, em um micro-ônibus, ao portão da entrada da área e desceram atirando nos manifestantes.Além de Valmir, atingido com dois tiros, outros cinco agricultores foram baleados e Isabel Nascimento de Souza foi espancada. Ainda segundo a Via Campesina, a Syngenta contratou serviços de segurança que atuavam de forma irregular na região, articulados com a Sociedade Rural da Região Oeste (SRO) e com o Movimento dos Produtores Rurais (MPR).Uma das diretoras da empresa de segurança NF foi presa no início de outubro e o proprietário da mesma fugiu durante uma operação da Polícia Federal que apreendeu munições e armas ilegais. Segundo a organização de trabalhadores rurais, há indícios de que a empresa é contratada como fachada, para encobrir a ação de pistoleiros que formariam uma milícia armada que atua praticando despejos violentos e ataques a acampamentos na região.No dia 18 de outubro, a atuação de milícias armadas ligadas à SRO/MPR e Syngenta na região Oeste do Paraná foi denunciada durante uma audiência pública coordenada pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal dos Deputados (CDHM), em Curitiba. Agora, a Via Campesina cobra da justiça a apuração do ataque, contra os trabalhadores do acampamento, que juntamente com o assentamento Olga Benário lutam para transformar a área num Centro de Agroecologia e de reprodução de sementes crioulas para a agricultura familiar e reforma agrária.O campo de experimentos da Syngenta foi ocupado pela primeira vez, em março de 2006, para denunciar o cultivo ilegal de sementes transgênicas. Após 16 meses de ocupação, no dia 18 de julho deste ano, as 70 famílias que participaram da ação desocuparam a área e foram para um local provisório no assentamento Olga Benário, também em Santa Tereza do Oeste.Sete homens já foram presosA Secretaria de Segurança do Paraná informou que sete homens que atacaram os agricultores já foram presos e disseram que foram contratados pelo Movimento dos Produtores Rurais para retirar pessoas que tentassem invadir a área. Eles foram autuados por formação de quadrilha, homicídio e exercício arbitrário das próprias razões. Após o confronto, os seguranças teriam fugido a pé e acabaram sendo encontrados e presos num barracão abandonado a cerca de seis quilômetros da fazenda da Syngenta. O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), determinou que a polícia fique de prontidão nas imediações da área para evitar novos conflitos.Em nota oficial, a Syngenta disse que “lamenta profundamente o incidente ocorrido durante nova invasão” e promete colaborar com as autoridades locais na apuração do que ocorreu. Ainda é prematuro fazer uma avaliação definitiva sobre o ocorrido, acrescenta a nota que assegura que a “a política global da companhia determina que não se use força ou armas para proteger suas unidades”.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Morreu Paulo Autran

Olá camaradas,

Após afastamento por contusão, volto às postagens. Essa é uma homenagem - um pouco atrasada - com versos triviais para Paulo Autran falecido no dia das criaças e de Vossa Senhora de Aparecida.

Beijos e abraços,

Paulo

Morreu Paulo Autran (1922-2007)

Morreu Paulo Autran
O Senhor dos palcos
O ator dos atores
A divina interpretação do real
O real intérprete da orgia
divina-pagã-teatral

Morreu Paulo Autran
Pobres mortais
os que não o assistiram
Mais pobres ainda
são os que não o aplaudiram

Morreu Paulo Autran
Mas se os deuses são imortais
por que Paulo Autran morreu?
Talvez seja essa
a grande contradição
esse deus era ateu

Evoé

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Estamos vivendo um momento medíocre? - 2ª parte


E aí cambada,


Abaixo a opinião da psicóloga Cecília Coimbra sobre o momento em que vivemos. Porém, aproveito pra falar pro povo largar de ser tonto e ficar comprando a merda da V*** com a capa do Che pra ficar passando nervoso e comprar as revistas progressistas como a Caros Amigos, Le Monde Diplomatique, Fórum etc. Os Civitas não precisam de $$$ pois já têm mais de 1 milhão de reaças que dão grana pra eles só através da V***. Já as progressistas quando batem recorde é de 15 mil exemplares vendidos. Sem contar que o governo federal ao invés de democratizar a mídia, fica enfiando $$$$$$$$$$$$$$$ no rabo da mídia gorda - e acha que eles vão deixar de tentar dar o golpe! tsc, tsc, tsc...

Quer ler essa porcaria e passar raiva ou dar risada da patetice é só ir a um consultório de dentista.


Até!





CECÍLIA COIMBRA, psicóloga


“A realidade está o tempo todo sendo produzida”


Na minha tese de doutorado Guardiães da Ordem – Uma viagem pelas práticas psi no Brasil do milagre, acabei dizendo que os psicólogos eram os guardiães da ordem. Vou juntar psicologia com história. E uma das características é a questão da intimização e da privatização. A psicologia acredita, hegemonicamente, que o sujeito tem uma essência, uma natureza; e que o psicólogo, especialista no ser humano, vai conseguir entrar e procurar uma verdade que está no interior do sujeito, o que é esse sujeito. Uma das características da psicologia é essa valorização do privado, do que está dentro do sujeito. Com meus conhecimentos vou dizer o que ele é e o que deve ser. O que será melhor pra ele.
E aí, o que é o modelo de família ajustada, de filho, mãe, pai. Vejo esse sujeito de forma abstrata, sem ser produzido pela história; e na história, sem ser atravessado por múltiplas forças em cima do contexto no qual está inserido. Esses modelos são os que a psicologia segue, sem nenhuma visão crítica de que está fortalecendo modelos que interessam à sociedade capitalista.
O segundo ponto, o familiarismo. No máximo me interessa minha família. Com isso desqualifico os espaços públicos. Eu me isolo deles. Isso é forte durante a ditadura militar, e ainda é forte essa concepção de que, no máximo, vou entender as relações que tenho com minha família. Tudo fica norteado ao interior do sujeito e à sua família.
As três características que a psicologia tinha muito fortes durante sua expansão no Brasil (intimização, familiarismo e psicologização de tudo) estão ainda hoje muito presentes nas práticas dos psicólogos. E essas questões não são pensadas. Alguns colegas, psicólogos, diziam “ué, vai fazer o estágio da Cecília?”, que era o estágio no Juizado da Infância e Juventude. “Mas aquilo não é psicologia, é política.” Esse argumento ainda está presente, no sentido de você desqualificar determinada prática, e tenta apontar que sua prática profissional não é neutra, não é objetiva. É uma prática o tempo todo política.
Esse positivismo, essa coisa do Descartes, do próprio Augusto Comte, ainda está presente na prática e no pensamento do psicólogo. Ele se acha um especialista, sim, que vai olhar objetivamente o sujeito e a realidade e dizer o que ele é e o que deverá ser pra ser um cidadão sadio, digamos. Nós somos muitas coisas. Você empobrece o indivíduo e o mundo quando diz “vou conseguir apreender objetivamente este mundo, este sujeito”. É impossível. Isto não existe. O tempo todo estamos produzindo realidade, principalmente os meios de comunicação de massa. Eles produzem a realidade. Não existe uma realidade em si, que tenha uma essência, uma natureza. A realidade está o tempo todo sendo produzida, como eu enquanto indivíduo estou sendo produzido o tempo todo. Eu sou produtor e produzido ao mesmo tempo. Produto e produtor.
Hoje a gente vê a questão da moral punitiva. As pessoas esquecem que a gente vive num contexto capitalista onde o que Foucault chama de biopoder, o poder sobre a vida, se impõe o tempo todo, e a sociedade de controle se impõe o tempo todo. Eu não preciso estar na prisão, na escola, como falava Foucault em termos da sociedade disciplinar. Hoje estou sendo controlada em espaços abertos. E o que mais produz subjetividades? Formas de perceber e agir no mundo? De existir e viver no mundo? São os meios de comunicação de massa. Que pregam toda uma lógica moral, punitiva e individualista.E o que a gente quer é punição, mais punição, como se fosse resolver. Onde abre mais concurso hoje para psicólogo é no Poder Judiciário. Vivemos numa sociedade de controle, numa política de tolerância zero, onde o Estado penal se maximiza, onde tem que ter psicólogo, pedagogo, assistente social. Para ocupar essa máquina penal que está se espalhando.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Estamos vivendo um momento medíocre?


Estamos vivendo um momento medíocre?

A partir do Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros, o Cansei, fomos ouvir personalidades pensantes a fim de encontrar algumas idéias sobre o momento nacional. Abaixo seis depoimentos exclusivos do só no site ( http://www.carosamigos.com.br/ ), por Flora Bonatto, Natália Mendes, Vinícius Souto e Marcelo Salles (Rio de Janeiro).

(ilustração: leitor assíduo da Veja)

MÁRIO SÉRGIO CORTELLA, filósofo e educador
“É uma vida miojo, que não tem processo, não tem avanço e não tem muito sabor, mas é prática”
Medíocre não é idiota, medíocre não é imbecil, medíocre do ponto de vista filosófico é aquele que está na média, aquele que fica no meio. Aliás, a origem da palavra é exatamente essa. A mediocridade é aquele que não é quente nem frio. Tem um livro da Bíblia cristã chamado Apocalipse, em que a Divindade diz: “Porque não és quente nem frio, porque tu és morno, hei de vomitar-te”. O Brasil vive em várias áreas, não são todas, uma certa síndrome de mediocridade. Isso é uma lógica da aceitação do possível, esquecendo que o possível é exatamente um acostumar-se, ou repousar na mediocridade. A mediocridade é uma satisfação com as coisas tais quais elas estão. Do ponto de vista econômico, nós estamos conformados a um modelo financeiro.
Você tem religiões, nos últimos tempos, que caminharam na direção de romper com a mediocridade, isto é, com a conformidade, com o apaziguamento forçado, com a paz do cemitério, ou até com a letargia, e que caminhavam no trabalho social, no envolvimento com as pessoas, fazendo aquilo que Leonardo Boff, de uma maneira brilhante, sintetiza dizendo que a gente precisa juntar o pai nosso com o pão nosso. No evangelho de João, no capítulo X, versículo 10, Jesus disse uma frase que é a ruptura da mediocridade, “Quero que tenhais vida e vida em abundância”. A vida em abundância é a ruptura da mediocridade da vida, não é mini-vida, sub-vida, nano-vida, menos vida, é vida abundante; e a vida abundante é aquela que ela carrega uma sexualidade saudável, uma religiosidade livre, uma amorosidade sincera, uma solidariedade contínua, uma fraternidade honesta. É aquela que carrega a sensibilidade de existir. Há religiões que caminham na direção de vida em abundância pra todos e todas. Pessoas fazem trabalho nessa direção, mas há outras práticas religiosas, seja dentro do cristianismo, nas suas múltiplas formas, seja ele o católico, o reformado, o neopentecostal, que fazem um trabalho de alienação, que fazem um trabalho que a gente chama às vezes de teologia da prosperidade, isto é do recurso imediato, ganhar de Deus os favores necessários nessa questão. E, portanto, essa teologia da prosperidade, ela implica em se negociar com a divindade, e eu ofereço agora ao pastor, ou à pastora aquilo que ele pede, que é bem material, dinheiro e aí Deus em troca me dá vida boa, isso é medíocre, é uma religiosidade negociada.
A mediocridade é apenas o gotejar da vida no dia-a-dia, com pequenas demonstrações, às vezes, de vitalidade. E isso atinge muita gente, porque falta utopia. Falta a noção de um futuro a ser construído e que seja melhor, afinal de contas têm feito algo cruel com as gerações que vêm, que é se fazer um saque antecipado do futuro, estamos tirando o futuro, dizendo aos jovens: não haverá meio ambiente, não haverá trabalho, não haverá segurança. E estamos dizendo a eles: você não tem passado, eu tive história, eu tive infância; e estamos dizendo a ele: você não tem presente, isso que você come não é comida, é porcaria, isso que você ouve não é música, é barulho. Está se dizendo às novas gerações que elas não têm história, e quem não tem história a ele só resta uma possibilidade, viver o presente até o esgotamento. Por isso, essa vida ansiada e essa sofreguidão pra existir, cada balada é como se fosse a última, cada viagem é como se fosse a última. Ou seja, perde-se a noção de processo e de história, e a ausência dessa visão de história leva a querer existir aqui e agora, de maneira instantânea. É uma vida miojo, que não tem processo, não tem avanço e não tem muito sabor também, mas é prático.
O Papa atual é uma pessoa conservadora. Em vários momentos manifestou posturas que são reacionárias, isto é voltar a elementos do século 18 ou 19. Ele jamais pode ser colocado como uma pessoa medíocre. Ele defende as idéias que carrega, ele anota, escreve, discute, posiciona. Posso dizer, não gosto de muitas das coisas que ele pensa, eu, Cortella, como de fato não o faço, não concordo, mas tenho de reconhecer nele uma mente teológica que não beira nem de longe a mediocridade. Posso dizer que beira a incompreensão, beira, às vezes, o sectarismo, em algumas situações, beira o conservadorismo, mas a mediocridade jamais. Se fosse um Papa medíocre, ficaria mais fácil inclusive enfrentá-lo naquilo que não se concorda com as idéias que ele levanta. Sou uma pessoa extremamente religiosa na minha trajetória. Se você me pergunta se freqüento cultos, não freqüento; se sou religioso, profundamente religioso.